Um passeio cronológico pelos estilos e marcos urbanísticos que moldaram a capital paranaense. Dos alicerces coloniais às torres contemporâneas de grife, Curitiba revela em suas edificações a evolução de uma cidade que soube mesclar tradição e inovação. A cada época, novos materiais, formas e ideias arquitetônicas surgiram, deixando um legado único que combina precisão técnica e narrativa histórica com o estilo de vida curitibano atual.
Século XIX – Fundação, Barroco e Ecletismo Imperial
Solar do Barão, concluído em 1884 pelo Barão do Serro Azul, exemplifica a arquitetura eclética com traços neoclássicos que marcavam as residências aristocráticas no fim do século XIX. A história arquitetônica de Curitiba inicia-se ainda no período colonial, com influências do barroco presentes nas primeiras igrejas e construções religiosas. Um exemplo marcante é a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco (conhecida como Igreja do Rosário), erguida originalmente em 1737 por mãos escravizadas, com sua fachada ornamentada no estilo barroco tardio. No decorrer do século XIX, a prosperidade trazida pelo ciclo da erva-mate impulsionou a construção de sobrados e solares ecléticos. Figuras como o engenheiro Antônio Rebouças participaram da transformação urbana desse período: em 1885, a chegada da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá alavancou o desenvolvimento para além do centro histórico, abrindo novas vias e bairros industriais. Os imigrantes europeus – alemães, italianos, poloneses, ucranianos – trouxeram técnicas construtivas e estilos diversos, misturando elementos bizantinos, neoclássicos, orientais e outros às construções locais. No final do século XIX, surge uma arquitetura eclética que combinava referências clássicas e ornamentação exuberante, simbolizando o status da elite ervateira. O Solar do Barão (1880–1884), residência do Barão do Serro Azul, expressa bem essa mistura: sua fachada com doze janelas simétricas e detalhes neoclássicos lembra a monumentalidade de um templo grego. Outro ícone desse período é a Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz, inaugurada em 1893 com estilo neogótico inspirado na Catedral da Sé de Barcelona – um indicativo de como Curitiba já buscava referências internacionais para suas obras.
Início do Século XX – Belle Époque Curitibana: Ecletismo, Art Nouveau e Art Déco
O começo do século XX em Curitiba foi marcado por um entusiasmo construtivo que refletia a Belle Époque brasileira. Prosperando com o comércio e a imigração, a cidade viu erguerem-se edifícios ecléticos de uso misto, clubes sociais e estruturas públicas em estilos revivalistas e modernos. O Palácio Avenida – construído entre 1927 e 1929 – exemplifica essa fase, abrigando cinemas e cafés e tornando-se símbolo da modernização urbana. Na mesma época, o Castelo do Batel (1928), projetado por Eduardo Fernando Chaves, trouxe o charme dos châteaux franceses ao Paraná. Influências Art Nouveau e Art Déco despontaram em edifícios como o Palácio Garibaldi e o antigo Colégio Estadual do Paraná. O Edifício Moreira Garcez, iniciado em 1927, foi o primeiro arranha-céu de Curitiba e marcou o início da verticalização local. Já em 1930, Frederico Kirchgässner projetou sua casa modernista, considerada a primeira obra do gênero na cidade, consolidando a transição entre o ecletismo e o racionalismo arquitetônico.
Modernismo e Urbanismo (1930–1960): Linhas Retas, Concreto e Plano Diretor
Nos anos 1930, o modernismo se consolidou em Curitiba com a valorização do concreto aparente e das formas puras. A Casa Kirchgässner inaugurou a estética funcional que dominaria as décadas seguintes. Nos anos 1950, surgiram ícones como o Edifício Eduardo VII (1954), inspirado no Flatiron Building de Nova York, e o Teatro Guaíra (1952–1974), de Rubens Meister, marco da arquitetura cultural modernista. A chegada do urbanista francês Alfred Agache em 1943 iniciou os primeiros estudos de planejamento urbano, mas o grande salto veio em 1966, com o Plano Diretor liderado por Jaime Lerner e outros jovens arquitetos locais. Esse projeto revolucionário introduziu o conceito de cidade policêntrica e corredores estruturais de transporte coletivo, que definiram o futuro urbanismo curitibano.
1970–1990: Verticalização e Inovação Urbana
As décadas de 1970 e 1980 marcaram a expansão vertical de Curitiba. O Batel e o Centro tornaram-se áreas de intensa verticalização, com torres residenciais e comerciais redefinindo o skyline. O Edifício Itália (1981) e o Edifício Presidente (1966) simbolizam o luxo e a modernidade da época. Jaime Lerner, prefeito em três gestões, foi o grande articulador da harmonia entre crescimento urbano e sustentabilidade, criando o calçadão da Rua XV de Novembro e o sistema de transporte expresso. O Jardim Botânico (1991) e a Ópera de Arame (1992) sintetizaram a fusão entre arquitetura e natureza, reforçando o caráter inovador da cidade e seu reconhecimento internacional.
Século XXI – Arquitetura Autoral e Sofisticação Contemporânea
No século XXI, Curitiba tornou-se polo da arquitetura autoral. Grandes nomes nacionais e internacionais passaram a assinar empreendimentos locais, refletindo a busca por exclusividade e design. Entre os exemplos recentes estão o Edifício Manhã (Arthur Casas) no Batel e o Noar (FGMF Arquitetos) no Cabral, ambos representando uma nova geração de torres de luxo que unem estética, funcionalidade e sustentabilidade. O AGE 360, da Triptyque Architecture em parceria com o Architects Office, elevou o padrão com certificações WELL, Fitwel e GBC, consolidando Curitiba como referência em arquitetura saudável e contemporânea. Essa nova fase também resgata o patrimônio histórico – como o Paço da Liberdade e o Largo da Ordem – revitalizando o passado com intervenções modernas e equilibradas.
Conexão com o estilo de vida e mercado imobiliário
A arquitetura curitibana sempre refletiu a vida de sua gente. Do esplendor ervateiro às torres de luxo, cada fase traduziu aspirações culturais e econômicas. Hoje, morar em um edifício assinado é aderir a um estilo de vida sofisticado, onde design, conforto e bem-estar se entrelaçam. Incorporadoras locais e nacionais exploram essa tendência, oferecendo empreendimentos que unem arte, tecnologia e sustentabilidade – atributos que tornaram Curitiba referência no mercado imobiliário de alto padrão.
Conclusão
Curitiba projeta-se no século XXI com confiança em suas raízes e olhos no futuro. Sua linha do tempo arquitetônica é também uma narrativa de desenvolvimento urbano e cultural. Cada prédio histórico restaurado e cada novo arranha-céu sustentável reafirmam a identidade de uma cidade que combina memória, inovação e qualidade de vida. A arquitetura curitibana é, ao mesmo tempo, herança e vanguarda – um reflexo da alma de uma capital que continua a inspirar o Brasil e o mundo.